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Arquiflexível

“Há boas razões para acreditar que variedade e adaptabilidade formam uma melhor combinação entre o ambiente construído e a vida que ele abriga. Além disso, o contexto atual em tecnologias construtivas sugere que não há necessariamente um conflito entre produção eficiente e variedade da forma. De fato, variedade pode ser a saída mais lógica para a produção eficiente (…)”
(HABRAKEN, N. John. The Control of Complexity. Pag. 3)

É fato que “flexibilidade” é um tema muito abrangido e cada vez mais presente no cotidinano, como escrevi no post Arquitetura e desejo. Espaços para eventos, exposições e residência tem cada vez mais a necessidade de atribuir a único espaço várias funções, ou possibilidade de aumentar ou diminuir. Especialmente em São Paulo, onde a construção civil está em alta observamos projetos como o da Max Hous, que dá a possibilidade ao morador de modificar o seu apartamento da maneira que desejar. O que tem ares de novidade, na verdade não é tão novo assim. Pelo contrário, é algo que vem sido estudado e trabalho há bastante tempo por arquitetos do mundo todo. Um exemplo é o arquiteto holandês John Habraken que desenvolveu projetos cujo conceito era a flexiblidade para habitação de massa.

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Os conceitos construídos por Habraken consistiam na idéia de que a adaptabilidade às condições de construção e de uso deveria estar em permanente mudança. A adaptação a uma realidade dinâmica, fez com que fosse definida uma distinção nas estruturas construídas, entre um suporte estável e permanente, e o recheio, flexível e adaptável. Essa visão veio para romper com a arquitetura habitacional de massa desenvolvida nos anos 60 e 70 na Europa. De acordo com o arquiteto, os usuários tinham a possibilidade de dar identidade a sua moradia, pois as técnicas construtivas eram flexíveis, permitindo que a habitação se adaptasse de acordo com as necessidades individuais. Muitos arquitetos da época procuravam trabalhar esse conceito, projetando plantas livres, porém com uma forma pura definida. Um exemplo disso é Mies van der Rohe, que trabalhava com definições funcionais vagas, dando aos seus edifícios a capacidade de abrigar arranjos funcionais variados. Mies van der Rohe disse: “Faz com que teus espaços sejam grandes e então, poderás usá-los como quiseres.” (citação reitrada de DORFMAN, Gabriel. Flexibilidade)

Dessa maneira a flexibilidade é um meio de garantir que um único espaço seja capaz de atender satisfatoriamente diferentes exigências funcionais. Há a liberdade de atribuir a um espaço diferentes usos e fluxos de pessoas e de objetos. É possível também alterar as formas de organização ao longo do tempo, tanto quantitativa quanto qualitativamente.


Serpentine Gallery e a Arquitetura Efêmera

Os Pavilhões construídos no Serpentine Gallery – localizado dentro do Hyde Park em Londres – a cada ano mostram novas soluções para o que chamamos de uma construção efêmera. O programa é simples: consiste em uma estrutura com área útil de aproximadamente 300 m², desmontável, para uso no verão. É aberto ao público como café durante o dia, transformando-se à noite em espaço para palestras e projeção de filmes, sempre tendo a arquitetura por tema.

Eventualmente também pode ser alugado para a realização de eventos privados. “O pavilhão é parte do nosso programa de exposições de arquitetura”, explica Julia Peyton-Jones, diretora da Serpentine Gallery. “Em vez de montar uma exposição convencional, com fotos e maquetes, optamos pela construção de estruturas arquitetônicas temporárias, que ofereçam ao público a oportunidade de vivenciar o trabalho produzido por arquitetos de renome internacional que nunca tenham construído na Inglaterra.” (Projeto e Design. Edição 283. Setembro de 2003).

É difícil dizer qual destes Pavilhões possui estrutura mais propicia para este evento, já que a cada vez os arquitetos surpreendem com suas variações que vão desde estruturas simples, à estrutura metálica mais pesada e até mesmo concreto.

Exemplo de estrutura simples foi o primeiro pavilhão, projetado por Zaha Hadid em 2000. Neste, ela reinventa de maneira radical e inteligente o conceito de tenda, utilizando estrutura metálica simples, dando a forma triangular facetada à cobertura e, a mesmo tempo, o seu interior permanece um espaço amplo de 600 m². A mesma arquiteta criou em 2007, outro pavilhão utilizando também lona e estrutura metálica. Possuindo uma altura de 5,5 m de altura, a forma foi inspirada na complexa geometria natural das pétalas de uma flor. São três volumes semelhantes, dispostos lado a lado como um círculo, de maneira que quase se tocam. A instalação é aberta por todos os lados tornando o acesso livre. Um aspecto da visão de Zaha Hadid é o interesse em relacionar arquitetura, paisagem e geologia, integrando a topografia natural aos sistemas produzidos pelo homem.

Pavilhão de Zaha Hadid em 2000

Pavilhão de Zaha Hadid em 2000

Pavilhão Zaha em 2007

Pavilhão Zaha em 2007 VEJA

Pavilhão de Niemeyer em 2003

Pavilhão de Niemeyer em 2003

Niemeyer também foi convidado a expor em 2003, porém criou certar esistência à proposta afirmando “Minha arquitetura é em concreto, não é temporária”, concordando somente quando a diretora do Serpentine argumentou que poderia ser desmontável utilizando concreto. Foi utilizado então aço, alumínio, vidro e paredes pré-fabricadas em concreto, dispondo quatro colunas para sustentar todo o edifício elevado 1,5 m do chão de plataforma 25×10 m.

Construção e Implantação do Pavilhão de Niemeyer

Construção e Implantação do Pavilhão de Niemeyer

Em 2006, Rem Koolhas projetou seu pavilhão utilizando estrutura inflável na cobertura, como um balão semitransparente, que flutua sobre a base feita com perfis de aço e vedada com policarbonato alveolar em forma de círculo. A construção funciona como café e fórum que abriga eventos públicos, como palestras, debates e filmes. O edifício não se restringe apenas a seu interior, sendo em seu entorno utilizado cubos dos mais diversos tamanhos como mobiliário, podendo ser dispostos de maneira diferentes pelos usuários. Alguns destes pavilhões apesar de serem desmontáveis, nem sempre transparecem seu caráter efêmero.

Pavilhão de Rem Koolhas em 2006

Pavilhão de Rem Koolhas em 2006 Rem Koolhas

Interior do Pavilhão de Koolhas

Interior do Pavilhão de Koolhas

É o caso do pavilhão criado pelo artista Olafur Eliasson e pelo arquiteto norueguês Kjetil Thorsen, que permanece de Agosto até Novembro de 2007. A estrutura é toda em madeira e o edifício curvo, aparece envolvido pela rampa espiralada que dá duas voltas completas levando o usuário do gramado até a parte mais alta, espaço para permanência, vislumbrando a paisagem. O programa proposto pelos arquitetos ao edifício consiste numa maratona laboratorial em que o objetivo é estudar a arquiteturados sentidos. A cada ano não somente um tipo de estrutura é usado de forma diferenciada, mas também a maneira de delimitar o território, a preocupação com o usuário e o evento dentro abrigado vem evoluindo, abrindo uma discussão mais séria e abrangente sobre arquitetura contemporânea e sua interatividade com o “usador” e a maneira como se integra com seu entorno.

Pavilhão de Kjetil Thorsen em 2007

Pavilhão de Kjetil Thorsen em 2007

Pavilhão de Toyo Ito (2002)

Pavilhão de Toyo Ito (2002)

Projeto do escritorio MVRDV não realizado em 2004

Projeto do escritorio MVRDV não realizado em 2004

Pavilhão em aluminio de Daniel Libeskind que faz alusão a um origami

Pavilhão em aluminio de Daniel Libeskind que faz alusão a um origami

Pavilhão de Alvaro Siza e Eduardo Souto de Moura baseado em um grid retangular distorcido.

Pavilhão de Alvaro Siza e Eduardo Souto de Moura baseado em um grid retangular distorcido.

Pavilhão de Frank Gehry em 2008

Pavilhão de Frank Gehry em 2008 Frank Gehry

Projeto de 2009 por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa do escritorio SANAA. Produzido em alumínio e colunas em aço.

Projeto de 2009 por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa do escritorio SANAA. Produzido em alumínio e colunas em aço. SANAA